Anos de pesquisa demonstram que, para a maioria das pessoas, padrões alimentares rígidos não levam à perda de peso sustentada nem ao bem-estar psicológico. Muitos de nós experimentamos pessoalmente as dificuldades de fazer dieta, e não é surpresa que podemos estar procurando novas alternativas. Uma prática conhecida como alimentação intuitiva – que tem o foco em estar em sintonia com os sinais de fome e plenitude do corpo e no combate ao pensamento oito ou oitenta em torno das escolhas alimentares – é uma opção em potencial.
A alimentação intuitiva é uma palavra que se ouve frequentemente hoje em dia, e tem se tornado cada vez mais popular nos últimos anos, mas existe uma confusão em torno do que significa essa abordagem. Este artigo irá aprofundar o que é a alimentação intuitiva, esclarecer termos relacionados e explicar o que as pesquisas indicam sobre o efeito da alimentação intuitiva e seus benefícios para a saúde.
O que é uma alimentação intuitiva?
A alimentação intuitiva foi criada por duas nutricionistas, Evelyn Tribole e Elyse Resch, e publicada pela primeira vez em um livro com o mesmo nome em 1995. Como observado pelas autoras, a alimentação intuitiva é uma “estrutura de autocuidado baseada na ciência e apoiada por experiência clínica.” É baseada em dez princípios, listados abaixo:
- Rejeite a mentalidade de dieta;
- Honre sua fome;
- Faça as pazes com a comida;
- Desafie a policiamento alimentar;
- Respeite sua saciedade;
- Descubra a sensação de satisfação;
- Honre seus sentimentos;
- Respeite o seu corpo;
- Movimente-se e sinta a diferença; e
- Honre sua saúde com uma nutrição agradável
Embora a alimentação intuitiva não funcione por regras em si, seus princípios visam guiá-lo a um relacionamento mais saudável com a comida e com seu corpo. A alimentação intuitiva funciona de duas maneiras principais: (1) ajuda a voltar a sintonizar com os sinais do corpo para a fome, a plenitude e a satisfação (também conhecida como consciência interoceptiva); e (2) remove os obstáculos que podem impedir você de ouvir o seu corpo (esses obstáculos geralmente são regras alimentares motivadas externamente e pensamentos rígidos sobre o comer).
É importante observar que os defensores da alimentação intuitiva afirmam que buscar intencionalmente a perda de peso não permite que você coma intuitivamente, pois isso o impede de ouvir os sinais do seu corpo. Isso não significa que é impossível perder peso enquanto se come intuitivamente; no entanto, a perda de peso não é o principal objetivo dessa prática.
O que mais eu preciso saber?
A alimentação intuitiva se encaixa no paradigma Health at Every Size® (HAES®), que é uma abordagem de saúde com peso inclusivo (também chamado de neutra com relação ao peso), em oposição a uma abordagem que enfatiza o peso corporal.
Essencialmente, o peso inclusivo ou neutro significa que o tamanho do corpo não será o principal parâmetro para avaliar o estado de saúde de uma pessoa. A alimentação intuitiva, a HAES® e o peso inclusivo são todos os termos que costumam ser incluídos na “abordagem sem dieta”. Enquanto nos concentramos nas pesquisas sobre alimentação intuitiva, é útil entender o contexto mais amplo em que esse modelo alimentar se encaixa.
As pesquisas sobre alimentação intuitiva
Embora a alimentação intuitiva ainda seja relativamente nova, até o momento foram realizados cerca de 200 estudos avaliando seu impacto em uma infinidade de resultados para a saúde. Na maioria das vezes, a alimentação intuitiva é avaliada em relação à uma patologia alimentar (como um antídoto à dieta crônica ou à desordem alimentar), peso (em comparação com abordagens voltadas ao peso), bem-estar psicológico e atenção aos sinais de fome e plenitude.
Esta revisão da literatura de 2014 sobre as relações entre alimentação intuitiva e indicadores de saúde incluiu 26 artigos; sendo 17 deles estudos de pesquisas transversais, nove eram estudos clínicos, oito dos quais eram ensaios clínicos randomizados. Como os princípios da alimentação intuitiva podem ser difíceis de avaliar, a revisão definiu alimentação intuitiva como: (i) comer quando se tem fome; (ii) parar de comer quando não estiver mais com fome ou quando estiver satisfeito; e (iii) não há restrições aos tipos de alimentos consumidos, com exceção das restrições por razões médicas.
Os resultados dessa revisão apontam para: “As pesquisas transversais indicam que a alimentação intuitiva está associada negativamente ao IMC, positivamente associada a vários indicadores psicológicos de saúde e possivelmente associada positivamente a um melhor consumo alimentar e / ou comportamentos alimentares, mas não está associada a níveis mais altos de atividade física. Dos estudos clínicos analisados, concluímos que a implementação da alimentação intuitiva resulta na manutenção do peso, mas talvez não na perda de peso, na melhoria da saúde psicológica, possivelmente em melhores indicadores da saúde física, além do IMC (por exemplo, pressão arterial; níveis de colesterol) e no consumo alimentar e / ou comportamentos alimentares, mas provavelmente não em níveis mais altos de atividade física.”
Este estudo de 2017 procurou examinar a relação entre controle rígido (regras alimentares inflexíveis que determinam o que, quando e quanto se deve comer), controle flexível (uma abordagem gradual da alimentação, definida por comportamentos como consumir porções menores de alimentos para controlar o peso, comer uma variedade de alimentos em quantidades limitadas e a compensação nas refeições subsequentes se alimentos “pouco saudáveis” fossem consumidos anteriormente) e alimentação intuitiva em vários indicadores de distúrbios alimentares e preocupação com a imagem corporal. Os autores coletaram dados on-line de 372 homens e mulheres com peso normal (com base no IMC) (idade média de 25 anos) e verificaram que, em contraste com o controle rígido da dieta, a alimentação intuitiva previa de maneira única e consistente níveis mais baixos de distúrbios alimentares e de preocupações com a imagem corporal. Os autores observam: “Esta relação do comer intuitivo com as desordens alimentares foi mediada por baixos níveis de pensamento dicotômico e a relação intuitiva do comer e imagem corporal foi mediada por altos níveis de apreciação do corpo”.
Além disso, este estudo de 2018 avaliou os resultados relacionados à alimentação e aspectos psicológicos de uma intervenção HAES®. Para este estudo, 216 mulheres preocupadas com o peso (ou seja, buscando ajuda para “problemas / preocupações com o peso”) que participaram da intervenção HAES® foram comparadas com 110 mulheres preocupadas com o peso que não receberam uma intervenção. Os dois grupos tinham IMC semelhante. A intervenção HAES®, focada em estilo de vida saudável, autoaceitação e alimentação intuitiva, envolveu 14 reuniões semanais realizadas por profissionais de saúde. Comportamentos alimentares e as correlações psicológicas (por exemplo, estima corporal, autoestima e depressão) foram avaliados usando questionários validados primeiro quando o estudo começou, depois imediatamente após o período de intervenção e, finalmente, um ano após a intervenção. A avaliação desta intervenção HAES® em um contexto da vida real mostrou sua eficácia na melhoria das variáveis relacionadas à alimentação, peso e aos aspectos psicológicos entre mulheres que lutam com o peso e com a imagem corporal. As mudanças relacionadas à alimentação observadas neste estudo são consistentes com os achados de outras pesquisas sobre HAES e alimentação intuitiva.
Limitações, resumo e discussões futuras
As pesquisas sobre alimentação intuitiva são promissoras e seus efeitos no bem-estar psicológico, no peso, na melhora da imagem corporal e na alimentação em resposta a sugestões internas estão se tornando mais bem documentadas. No entanto, mais estudos são necessários em populações mais diversificadas. Além disso, o tamanho limitado da amostra da maioria dos estudos citados merece mais pesquisas e discussões. Ainda assim, a alimentação intuitiva pode ser uma opção para os interessados em abandonar as rígidas regras da dieta em favor de uma abordagem diferente. Como sempre, há muitos fatores envolvidos para melhorar sua saúde e sempre recomendamos que você busque orientação com seu médico ou nutricionista.
Este artigo inclui contribuições de Kris Sollid, Rd.