Carnes e Outras Novas Alergias Alimentares

Por Food Insight
PUBLICADO – 30 DE OUTUBRO DE 2019

Provavelmente todos nós conhecemos alguém alérgico a amendoins, ovos, amêndoas ou à alguns dos outros alérgenos do Big Eight. Mas alérgico à carne? Essa é nova. Uma alergia à carne não é a única alergia que você pode se deparar. Casos de anafilaxia à especiarias, aipo, bananas e muitos outros alimentos têm também sido relatados nos últimos anos. Embora essas alergias afetem uma proporção relativamente pequena da população, elas ainda são importantes.

Primeiro, vamos analisar as alergias

Antes de mergulharmos nessas novas alergias alimentares, vamos recapitular a diferença entre uma alergia e uma intolerância. Uma alergia alimentar é uma resposta imunomediada a uma substância presente nos alimentos e pode ser fatal. O sistema imunológico libera anticorpos da imunoglobulina E ( IgE), em resposta ao que se pensa ser um invasor, como a proteína de amendoim ou mesmo a manteiga de amendoim. Por outro lado, a intolerância afeta o sistema digestivo e geralmente causa dores de estômago, náusea, vômito ou diarreia, mas normalmente não apresenta risco de morte. Alguns sintomas podem se sobrepor, o que para muitos pode ser confuso saber se é uma verdadeira alergia alimentar ou uma intolerância. É importante lembrar que apenas um médico alergista certificado pode realmente diagnosticar uma alergia. Discutiremos alergias aqui, mas também é possível acontecer uma intolerância a qualquer um desses alimentos.

Atualmente, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA reconhece oito principais alérgenos (os “Big Eight”), responsáveis ​​por aproximadamente 90% das reações alérgicas nos EUA: leite, ovos, peixe, crustáceos, nozes, amendoins, trigo e soja. A FDA aplica a Lei de Rotulagem de Alérgenos Alimentares e de Proteção ao Consumidor (FALCPA), que regula a rotulagem desses principais alérgenos. De acordo com a FALCPA, um alimento que contenha qualquer um destes alérgenos como um ingrediente deve ser rotulado na embalagem. A FDA também reconhece que mais de 160 alimentos podem causar reações alérgicas em algumas pessoas, embora seja quase impossível exigir a rotulagem de todos esses ingredientes.

“Carne” a nova culpada

Um desses 160 alérgenos é a carne. Embora a prevalência da alergia à carne não esteja clara atualmente, especialistas estimam que ela tenha aumentado nos últimos anos. O que chamamos de alergia à carne é na verdade uma alergia à molécula de açúcar  alfa-gal (galactose-α-1,3-galactose), encontrada na maioria dos mamíferos. Alfa-gal não é encontrada em humanos, primatas, símios ou não mamíferos (como aves, peixes e répteis).  Isso significa que as pessoas com essa alergia podem comer frango e peixe nas refeições, mas não carne de vaca nem de porco. Alguns especialistas suspeitam que a alergia à alfa-gal esteja relacionada ao carrapato Lone Star, um inseto nativo do sul e leste dos EUA. Isso também pode explicar por que a  maioria dos casos de alergia à carne são encontrados nessas regiões. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) não confirmaram se a picada do carrapato causa alergia alfa-gal, mas recomendam tomar medidas para evitar picadas de carrapatos ao se aventurar ao ar livre, pois há alguma correlação entre a picada de carrapato e os sintomas da alergia.

Não apenas carne de vaca

Uma carne animal não é o único problema que estamos vendo no sistema alimentar. Enquanto carnes à base de frango estão surgindo em todo o mercado de alimentos, elas também podem representar um risco para pessoas com alergias conhecidas. Não é segredo que algumas proteínas vegetais contêm alérgenos importantes; o tofu e o tempeh são feitos de soja, o seitan é feito de trigo. No entanto, esses produtos sempre são devidamente rotulados de acordo com as regras da FDA para rotulagem de alérgenos.

As pessoas com alergia a amendoim podem não ter os mesmos sinais ao experimentar novas carnes elaboradas com compostos de origem vegetal. Há casos relatados de pessoas com sintomas semelhantes ao comer um produto cárneo à base de plantas, como aconteceria após comerem um amendoim. Os cientistas atribuem isso ao isolado da proteína da ervilha presente nesses produtos. Embora apenas uma pequena porcentagem de pessoas com alergia ao amendoim tenha reações a outras leguminosas (como ervilhas), a alta concentração da proteína da ervilha pode desencadear uma reação em algumas pessoas. Algumas empresas de carne à base de plantas têm se manifestado colocando no rótulo dos produtos um aviso para proteger os consumidores dessas alergias conhecidas.

Outras novas alergias

Embora raros, casos de reações alérgicas graves a especiarias, entre outros  alimentos, também apareceram recentemente. Alergias a especiarias como coentro podem afetar 2 a 3% da população americana, de acordo com o American College of Allergy, Asthma, and Immunology (ACAAI). Alergias a especiarias, no entanto, podem ser difíceis de serem identificadas por alguns motivos. Por exemplo, a pimenta moída pode normalmente nos fazer espirrar ou pode desencadear sintomas em pessoas com asma. É importante notar que estes não são sintomas de uma reação alérgica. Além disso, as alergias ao gergelim se tornaram mais prevalentes. A Food and Drug Administration (FDA) está considerando adicionar o gergelim à lista dos principais alérgenos por causa de sua prevalência, o que significa que será rotulado de maneira semelhante à maneira como o amendoim, a soja e o trigo são rotulados atualmente. Tanto a pimenta moída quanto o gergelim podem ser incluídos em misturas de especiarias ou alimentos misturados em geral, o que pode dificultar a identificação da verdadeira causa da reação alérgica.

Você pode se deparar com outras alergias alimentares específicas, como coco e milho, o que torna importante reconhecer que qualquer pessoa pode ter uma reação alérgica a qualquer alimento a qualquer momento, mesmo que essa pessoa nunca tenha sido diagnosticada com alergia antes. Estar ciente dos sintomas de uma reação alérgica é importante para manter a tranquilidade diante de uma emergência. É especialmente importante estar ciente dos ingredientes dos produtos para essas alergias específicas, pois não há orientação para rotular alérgenos menos conhecidos.

Dados recentes da Food & Health Survey de 2019 sugerem que 17% dos americanos “têm alguém com uma alergia alimentar em casa” e outros 37% “conhecem alguém que tenha alergia alimentar”. Juntos, esses dados representam mais de 50% da população dos EUA que estão conectados a alguém que tem alergia alimentar. Portanto, é importante saber o que fazer em caso de emergência. Se você ou alguém que você conhece estiver tendo uma reação alérgica, ligue para o 911 (nos EUA) e para 192 (no Brasil) e procure atendimento médico imediato. Uma atenção rápida e imediata pode salvar uma vida.

Esta publicação do blog foi escrita por Courtney Schupp, MPH, RD, nossa  2019 Sylvia Rowe Fellow.