Fast Take: Você Deve Continuar Com Proteína ou Não?

Por Kris Sollid, RD | 31 de maio de 2018
Última atualização em 31 de maio de 2018

Destaques:

  • Os pesquisadores do estudo detectaram que a alta ingestão total de proteínas estava “marginalmente associada” ao aumento do risco de insuficiência cardíaca, alcançando apenas significância estatística.
  • A ingestão dietética foi avaliada através de um único registro alimentar de quatro dias que foi coletado na década de 1980. Já discutimos as limitações desses métodos antes, assim como outros.
  • A amostra relativamente pequena (para pesquisa epidemiológica) torna quase impossível especular sobre a aplicabilidade dos resultados, mesmo para suas contrapartes finlandesas.
  • Estudos observacionais não estão equipados para estabelecer causa e efeito. Assim, eles não podem mostrar que a ingestão de proteínas causa insuficiência cardíaca.
  • A proteína dietética é um nutriente essencial para manter a força muscular, a saúde dos ossos e o controle do açúcar no sangue.
  • Os melhores métodos para atender às suas necessidades de proteína são escolher fontes de proteína com menor teor de açúcar, gordura saturada e sódio, sempre que possível, e distribuir a ingestão de proteínas ao longo do dia.

Um novo estudo da Finlândia está acrescentando combustível ao debate sobre tribos alimentares, e os entusiastas da proteína podem não gostar das manchetes que este estudo está gerando. Dada a popularidade de dietas com teor de proteína mais elevado e pobre em carboidratos, você pode achar estes resultados surpreendentes. Mas será que este último estudo dietético deve convencê-lo a reconsiderar sua ingestão de proteína? Aqui está a nossa opinião.

QUEM PARTICIPOU?

Os pesquisadores examinaram o impacto da ingestão autorreferida de proteínas em homens finlandeses de meia idade e idosos para estudar o papel das proteínas na dieta e o risco de insuficiência cardíaca. Este estudo de coorte de base populacional selecionou aleatoriamente cerca de 2.400 homens da Finlândia oriental e os acompanhou por uma média de 22 anos, examinando seu risco de desfechos relacionados à doença cardiovascular. As verificações das inscrições e do ponto de partida (incluindo um registro alimentar de quatro dias) ocorreram entre 1984 e 1989. No final do estudo, foram registrados 334 casos de insuficiência cardíaca.

O QUE O ESTUDO ENCONTROU?

Em comparação com aqueles homens que comeram quantidades mais baixas de proteína, os homens que ingeriram mais proteínas eram mais jovens, mais propensos a serem casados, mais instruídos e com maior renda. No entanto, eles eram mais propensos a ter diabetes e maior IMC, e eles comeram mais fibras, gorduras poli-insaturadas, frutas, frutas vermelhas, hortaliças e carne vermelha processada.

A ingestão média de proteína dos participantes foi de cerca de 90 gramas/dia ou 16% da ingestão total de energia, o que espelha de perto a ingestão média de proteínas nos EUA. Desses 90 gramas, 70% eram de origem animal (principalmente leite, carne e peixe), 28% provinham de fontes vegetais (principalmente grãos e batatas) e 2% eram de fontes mistas. Curiosamente, a ingestão total de proteína de carne, derivados de carne, leite, peixe, ovos e fontes vegetais não foi associada a um aumento do risco de insuficiência cardíaca. No final, o estudo constatou que a alta ingestão total de proteínas estava “marginalmente associada” ao aumento do risco de insuficiência cardíaca, oscilando no limite da significância estatística.

Além de analisar a ingestão total de proteínas, o estudo também examinou associações entre insuficiência cardíaca e diferentes fontes de proteína animal e vegetal. Como por exemplo, os  lácteos totais das proteínas lácteas fermentadas (como a coalhada), foram associados a um risco aumentado de insuficiência cardíaca, particularmente entre os consumidores de proteína mais elevados, mas os lácteos não fermentados como o leite, não foram associados a esse risco. Embora os dados mostrem uma diferença de risco, os autores afirmaram que “não encontramos uma explicação plausível para por que os laticínios fermentados ou suas proteínas seriam mais prejudiciais do que os laticínios não fermentados. Assim, considerando que incluímos muitas análises no presente estudo, não podemos excluir a possibilidade de um achado casual explicando o resultado”. Esses tipos de achados podem ocorrer frequentemente em estudos com grandes quantidades de dados e um limiar arbitrário e às vezes mal utilizado para determinar se uma descoberta é significativa ou não. 

ONDE O ESTUDO FALHOU?

A ingestão dietética foi avaliada através de um único registro alimentar de quatro dias que foi coletado na década de 1980. Já discutimos a utilidade de tais métodos na pesquisa observacional antes, assim como outros. Embora os registros dietéticos possam ser úteis, eles também são uma limitação marcante dos estudos epidemiológicos nutricionais, porque as medições breves e únicas não apresentam uma imagem precisa dos padrões de alimentação de longo prazo (históricos ou futuros) das pessoas. Há muitas maneiras diferentes de medir a ingestão alimentar, e avanços como o USDA Automated Multiple-Pass Method foram feitos desde que a coleta de dados deste estudo ocorreu há três décadas.

Além disso, a avaliação dietética utilizada para este estudo foi bastante simples em comparação com os padrões atuais, faltando muitas categorias, o que torna as associações resultantes menos precisas. Os autores do estudo reconhecem essas deficiências: “A única medida no tempo zero da dieta e outros fatores de estilo de vida e a incapacidade de um registro alimentar de quatro dias para avaliar com precisão a ingestão típica de alimentos ocasionalmente consumidos e a variabilidade sazonal dos alimentos poderiam introduzir um erro aleatório e assim enfraquecer as associações.”

Embora o estudo tenha coletado registros de o que as pessoas comiam, infelizmente, a forma como as pessoas preparavam sua comida não foi capturada. Esta é uma omissão importante porque certos métodos de preparação de alimentos têm mostrado diferentes formas de impacto na saúde. Por exemplo, assar ou grelhar é mais saudável para o coração do que fritar. Ter mais informações sobre as técnicas culinárias usadas nos alimentos proteicos consumidos por esses homens finlandeses mais velhos poderia fornecer informações adicionais sobre seus resultados de saúde.

Falando de homens finlandeses mais velhos: A amostra relativamente pequena (para pesquisa epidemiológica) é limitada, por isso, é impossível especular sobre a aplicabilidade dos resultados, mesmo para as mulheres finlandesas. Infelizmente, as manchetes de mídia geralmente negligenciam esse princípio de pesquisa e tradução.

Por fim, um ponto recorrente que não podemos enfatizar o suficiente: pelo design, os estudos observacionais não estão equipados para determinar causa e efeito. Assim, eles não podem destacar um mecanismo biológico entre qualquer relacionamento potencial – neste caso, ingestão de proteína e insuficiência cardíaca. Eles podem, no entanto, gerar associações e hipóteses para estudos futuros em ensaios clínicos randomizados, nos quais relações causais podem ser feitas. Uma pesquisa mais rigorosamente projetada, olhando para essa conexão, é necessária.

AVANÇO RÁPIDO

Embora este estudo possa estar recebendo atenção da imprensa, não é algo que a maioria dos profissionais de nutrição recomendaria mudar em sua dieta. Este estudo não muda o que sabemos sobre os benefícios das proteínas para a saúde, a quantidade que devemos consumir ou a completa função das proteínas para o envelhecimento das populações.

A proteína dietética é um nutriente essencial para a manutenção da força muscular, saúde dos ossos e controle do açúcar no sangue. Alimentos ricos em proteínas contêm muitas das vitaminas e minerais necessários para ajudar nas defesas do corpo e a promover uma cura mais rápida. Comer alimentos ricos em proteínas no início do dia também pode ajudá-lo a alcançar e manter seus objetivos de peso satisfazendo a fome e reduzindo o desejo de fazer lanches entre as refeições. A importância de uma nutrição de qualidade é ainda maior à medida que nossas necessidades de apetite e calorias diminuem com a idade, pois preservando o tecido muscular do nosso corpo mantendo a ingestão de proteína nos permite permanecer ativos. Comer bastante proteína também está associado à redução do risco de fraturas ósseas, uma preocupação importante para os idosos.

O Dietary Recommended Allowance (RDA) é de 54 – 72 gramas de proteína por dia para um adulto de peso de 68 a 90 quilos. Esta é uma orientação geral para encontrar a quantidade mínima de proteína que você precisa com base no seu peso corporal. Os melhores métodos para atender às suas necessidades de proteína são ler os rótulos dos alimentos e escolher os alimentos com pelo menos 5 gramas de proteína por porção; escolha fontes de proteína que sejam pobres em açúcar, gordura saturada e sódio, sempre que possível; e distribua sua ingestão de proteína ao longo do dia. 

Este blog inclui contribuições de Megan Meyer, PhD e Allison Webster, PhD, RD.