Por Alyssa Pike, RD
30 DE SETEMBRO DE 2021
Nossa Pesquisa de Alimentos e Saúde de 2017 revelou uma descoberta desconcertante: a maioria dos consumidores – quase oito em 10 ou 78% – afirmam que encontram muitas informações conflitantes sobre o que comer ou o que evitar; mais da metade (56%) afirma que as informações conflitantes os fazem duvidar das escolhas alimentares que fazem. Inicialmente, essa afirmação pode parecer normal na era da informação, mas não podemos ignorá-la. Como podemos tomar decisões informadas sobre alimentos se não podemos separar os fatos da ficção, ou se não concordamos sobre o que é verdade? Essas são questões importantes que tanto os comunicadores de nutrição quanto os consumidores comuns precisam considerar.
Um dos tópicos mais controversos em nutrição é o conceito do “comer limpo”. O que é? Onde isso começou? E se não estivermos comendo limpo…. estamos comendo sujo?
O Que é Comer Limpo?
Estamos há pouco mais de uma década na era do comer limpo, que foi introduzido pela primeira vez em 2007 por um preparador físico canadense que enfatizou a importância de evitar alimentos processados. Então, em 2009, um cardiologista aposentado promoveu a “desintoxicação natural” do corpo por meio de uma dieta de eliminação vigorosa e muitos líquidos.
Atualmente, ainda não existe uma definição clara ou regulamentada para o comer limpo. O IFIC tentou entender melhor o que os consumidores querem dizer quando se trata de “limpo” por meio da Pesquisa de junho de 2021: Do “Parece Químico” ao “Limpo”: Perspectivas do Consumidor sobre Ingredientes Alimentares. Na pesquisa, verificamos que quase metade dos consumidores se consideram comedores “limpos”. Quando questionados sobre o que isso significava, um em cada cinco entrevistados – 21%, classificou “comer alimentos que não são altamente processados” como sua principal definição para o termo; quase metade – 49%, classifica o termo entre os três primeiros. Outros 14% dos que se autodenominam comedores limpos definiram o termo como comer alimentos encontrados na seção de produtos frescos; 13% como comer alimentos orgânicos, 11% como comer alimentos com listas de ingredientes simples e 9% definiram o termo como comer alimentos com ingredientes que eles consideram simplesmente “limpos”.
Além disso, a pesquisa constatou que quase dois terços – 63% dos adultos responderam que os ingredientes de um alimento ou bebida têm pelo menos uma influência moderada sobre o que compram. Mais especificamente, os americanos preferem escolher ingredientes que pareçam limpos e evitam ingredientes que pareçam químicos. No entanto, mais de quatro em cada dez entrevistados – 42% concordaram que adicionar conservantes aos alimentos é uma forma de ajudar a reduzir o desperdício de alimentos; 21% discordaram e 39% concordam que adicionar um ingrediente a um alimento seria positivo se estendesse sua vida útil, porém 23% discordaram.
O Risco de Um Movimento Enredado Pela Confusão
O que quer que você escolha rotular – seja comer menos alimentos processados, evitar ingredientes que você não consegue entender na lista de ingredientes em um produto, preferindo uma dieta apenas de alimentos in natura, as estatísticas de 2017 não podem ser ignoradas; ainda existe uma abundância de informações conflitantes sobre as tendências nutricionais, como alimentação saudável na internet, e isso tem consequências.
A falta de clareza em relação ao comer limpo, juntamente com a tendência desse movimento de rotular certos alimentos ou ingredientes como “bons” e outros como “ruins”, coloca seus adeptos em um risco particular que é o de uma obsessão doentia com o que comer.
Já falamos sobre como a pressão para comer de determinada maneira pode causar ansiedade ou preocupação excessiva com a alimentação, como acontece com a maioria dos planos alimentares restritivos. Mesmo com a melhor das intenções, o “comer limpo” pode ser confundido com quem pode consumir a lista mais purista de ingredientes; e, na busca da perfeição, esquecemos que a maioria dos alimentos foi processada de alguma forma. O que comemos precisa ser compreendido e escolhido no contexto de nossa dieta total, não isoladamente.
Dessa fascinação por uma alimentação saudável, surgiu um novo tipo de distúrbio – a ortorexia. Embora a ortorexia ainda não tenha sido oficialmente classificada como transtorno alimentar pelo Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM na sigla em inglês), é uma condição séria que, de acordo com a National Eating Disorders Association, causa uma fixação em uma alimentação adequada ou saudável. Indivíduos que lutam contra a ortorexia podem experimentar uma fixação em comer “puro” tão forte que prejudica seu estado físico e psicológico. Lamentavelmente, um estudo constatou que quase metade dos profissionais nutricionistas – os especialistas em educação e ciência da nutrição – correm o risco de ter ortorexia.
Fique Com o Que é Útil, e Deixe de Lado o Que Não é
Então, onde isso nos leva? Na era do comer limpo, como podemos equilibrar o desejo de comer de maneira saudável sem cruzar a linha da obsessão?
Podemos começar sendo claros sobre o que queremos dizer quando usamos certas frases. Em vez de dizer “Quero comer comida limpa”, diga “Quero comer mais frutas e hortaliças” ou “Quero aprender mais sobre sobre os ingredientes dos produtos da minha alimentação que não conheço”. Essas avaliações honestas podem nos ajudar a entender o que realmente nos deixa confusos ou o que procuramos nos alimentos que consumimos.
Também podemos lembrar que a comida é apenas uma parte da nossa saúde; uma importante parte, mas ainda assim, apenas uma parte. Se você pensa na saúde como um grande gráfico em pizza, considere que se concentrar demais em uma fatia prejudicará a capacidade de reconhecer de maneira saudável o valor das outras fatias, como saúde emocional, espiritual, mental ou social.
Equilibrar uma alimentação saudável também significa aprender a checar nossas fontes de informação. Se você encontrar alguma informação sobre um alimento ou ingrediente que o confunda, você não precisa aceitá-la como um fato; você pode e deve falar com um nutricionista ou outro profissional especialista em nutrição. Por último, tenha em mente esta dica; fique com o que é útil, e deixe de lado o que não é.