Por Kris Sollid, R.D. | Jan 10 2017
Última atualização em 24 de abril de 2017
Janeiro é geralmente um mês cheio de otimismo. Mas este ano, não está sendo assim. Não, não estou falando de política, mas estou falando de uma nova perspectiva recentemente publicada on-line no PLoS Medicine, em que os autores fazem uma dura campanha contra o consumo de bebidas adoçadas com edulcorantes de baixo valor calórico (LCSBs) na sigla em inglês.
De acordo com os autores, as LCSBs não cumprem suas promessas, e há uma extensa lista de razões para não as consumir. Mas quais evidências os autores usam para apoiar esta mensagem? Vamos dar uma olhada.
Primeiro, vamos começar chamando o artigo do PLoS pelo que ele é – um comentário. Embora tenha sido publicado em uma revista médica revisada por pares, e de muitas manchetes da mídia o terem chamado de “estudo”, não é um estudo. Nenhuma pesquisa nova foi conduzida aqui. Apenas novas opiniões.
Agora vamos falar sobre as evidências apresentadas no comentário. Os autores sugerem que os numerosos estudos citados em apoio ao seu argumento são iguais em força e credibilidade à grande quantidade da literatura revisada por pares com resultados contraditórios. Em outras palavras, eles promovem o falso equilíbrio ao posicionar dois conjuntos independentes de evidências como iguais quando na verdade não são.
Aqui estão dois pontos-chaves do artigo (juntamente com a minha resposta) que espero acrescentar algum contexto baseado em ciência a este “comentário”:
- “Existem preocupações de longa data que as LCSBs podem desencadear mecanismos compensatórios.”
Os autores estão aludindo a um argumento impreciso que parece estar surgindo mais frequentemente hoje em dia. O argumento se baseia na especulação de que quando você bebe uma LCSBs (em vez de uma bebida com caloria ou água), você acaba consumindo mais calorias naquele dia do que você consumiria sem a bebida.
Considero particularmente interessante que os autores levem adiante esse conceito ao mesmo tempo em que citam um estudo que afirma explicitamente: “Uma revisão crítica da literatura, abordando os mecanismos pelos quais os NNS (edulcorantes nãos nutritivos) poderiam promover o consumo de energia, revela que nenhum deles é substanciado pelas evidências disponíveis.”
É importante entender isso – e os autores também destacam com muita clareza – as LCSBs não são (e não devem ser percebidas como) pílulas mágicas para a saúde. Não há tal coisa como uma pílula mágica na nutrição. No entanto, as evidências das revisões sistemáticas e das meta-análises de alta qualidade (você sabe, os tipos que sustentam as Diretrizes Dietéticas oficiais dos EUA e outras declarações de autoridades mundiais) ilustram que os LCSs são uma opção segura e eficaz que podem ajudar a reduzir o número de calorias que comemos e bebemos.
Embora os ensaios de curto prazo mostrem eficácia para a perda de peso e os ensaios de longo prazo tenham produzido resultados mistos, não significa que o uso prolongado de LCSB leve ao ganho de peso. Para fazer este tipo de declarações, você precisa de provas, que o comentário PLoS não fornece. Apenas para deixarmos claro aqui, os autores admitem que “as evidências disponíveis não suportam diretamente um papel [das ASBs (bebidas artificialmente adoçadas)] na indução ao ganho de peso”.
- “As LCSBs podem contribuir para o desenvolvimento de intolerância à glicose, alterando a composição e funções da microbiota intestinal.”
Esta pode ser a afirmação que vem com a menor quantidade de evidência por trás dela, mas, no entanto, ela é feita. Há inúmeras questões sobre este estudo no que tange aos LCSs (edulcorantes de baixa caloria) e microbiota intestinal (Suez et al., 2014), e nós já escrevemos sobre eles antes. Debruçar-se neste artigo para obter suporte não reforça o argumento. Em minha opinião, isso o enfraquece drasticamente.
Ao citar este estudo, os autores falharam em discutir suas múltiplas e severas limitações: curta duração, pequeno tamanho das amostras (20 ratos, FFQs (Food Frequency Questionnaire) de 381 pessoas e uma intervenção com 7 pessoas – onde os efeitos foram observados apenas em 4 dos 7 indivíduos), auto-relatos, e variáveis não ajustadas e confusas, apenas para citar algumas. Ter apenas uma ou duas dessas limitações pode reduzir drasticamente a validade e a força de um estudo em particular.
No entanto, os autores avidamente apontam para limitações em estudos de investigação com nível significativamente maior que carecem de muitas das falhas em Suez, et al. Para uma avaliação mais convincente e controlada do impacto das LCSBs sobre o peso corporal, aqui estão algumas sugestões de leitura: Peters et al., 2014, de Ruyter, et al., 2012, Miller, Perez 2014.
É importante discutir ambos os lados da história da pesquisa, e este comentário falha a esse respeito. Onde não falha, no entanto, é em usar campanha e defesa retórica (e não o estabelecido pela totalidade da ciência) para justificar uma opinião sobre toda uma categoria de alimentos – as LCSBs, neste caso.
Eu não vou argumentar que todo mundo experimentaria um benefício de saúde usando os LCSs ou bebendo LCSBs – existem inúmeras estratégias alternativas para diminuir a ingestão calórica se esse é o seu objetivo. Vou argumentar que a escolha é soberana. E desqualificar o caminho preferido para reduzir as calorias em sua dieta por meios simples, seguros, eficazes e agradáveis não parece ser uma maneira produtiva de promover a saúde pública com base no consenso científico.