Ciência Consistente: O Consumo de Gorduras Insaturadas Pode Ajudar Pessoas Com Diabetes

Por Megan Meyer, PhD | 28 de julho de 2016
Última atualização em 05 de maio de 2017

Estamos prestes a desvendar descobertas científicas, especialmente quando as pesquisas se concentram na nutrição. Na maioria das vezes, estamos fornecendo perspectivas importantes para estudos particularmente populares, trabalhando para garantir que a ciência, como um todo, seja promovida, e não apenas descobertas únicas e pontuais. Por isso, em vez de sair correndo com manchetes do momento que de alguma forma nos convencem que “o alimento X vai provocar em nós a doença X”, estamos trabalhando para apoiar e promover a ciência consistente (especialmente porque esses tipos de resultados raramente geram manchetes sensacionalistas e descaradas).

Qual é o estudo?

Esta meta-análise da PLOS Medicine examinou mais de 100 ensaios clínicos aleatórios (RTCs na sigla em inglês), o padrão ouro do desenho de um estudo, para examinar os efeitos da ingestão de macronutrientes, especificamente gordura saturada, gordura monoinsaturada, gordura poli-insaturada e carboidratos sobre uma variedade de marcadores de saúde que são relevantes para indicar o desenvolvimento de diabetes, como açúcar no sangue, sensibilidade à insulina e produção de insulina em adultos com idade superior a 18 anos.

Por que este estudo é interessante?

Este é um dos primeiros estudos que avaliou sistematicamente a totalidade das evidências (isto é, usando dados disponíveis até novembro de 2015!) para examinar os efeitos das gorduras saturadas, gorduras monoinsaturadas, gorduras poli-insaturadas e marcadores de carboidratos relevantes para indicar o desenvolvimento do diabetes. Por que o interesse pelo diabetes? O diabetes é uma das doenças não transmissíveis mais comuns – em 2014, 387 milhões de pessoas tinham diabetes e, além da intervenção farmacêutica, a modificação dos hábitos alimentares provou ser uma estratégia bem-sucedida tanto na prevenção como no controle do diabetes.

O diabetes, um transtorno crônico, se desenvolve quando o pâncreas não pode produzir insulina suficiente ou quando o corpo não pode mais fazer uso da insulina produzida. Não tem certeza onde o açúcar (glicose) entra? A insulina é um hormônio chave que permite que as células do seu corpo consumam o açúcar no seu sangue, usando-o para a energia. No longo prazo, uma produção incorreta ou falha na função da insulina aumenta os níveis de açúcar no sangue (hiperglicemia) e pode resultar no desenvolvimento do diabetes.

Quais foram os métodos?

Em termos gerais, os autores utilizaram a meta-regressão de múltiplos tratamentos, que é uma maneira sofisticada de dizer que os autores usaram métodos estatísticos para analisar e sintetizar estudos com diferentes intervenções. Mais especificamente, os autores analisaram os achados de 102 (RTCs na sigla em inglês). Nesses estudos, 4.660 participantes foram incluídos para avaliar como macronutrientes, como gordura saturada, gordura monoinsaturada, gordura poli-insaturada e carboidratos impactam na regulação do açúcar no sangue, bem como, na produção e sensibilidade à insulina.

Quais foram as conclusões gerais?

A troca de carboidratos ou gorduras saturadas por gorduras insaturadas, especialmente gorduras poli-insaturadas, foi associada a melhores níveis de glicose no sangue, resistência à insulina e secreção de insulina.

Os achados tiveram significado clínico?

Com um número cada vez maior de meta-análises sendo publicadas e a significância sendo determinada pelos valores de p, o importante é avaliar se os achados “significativos” têm significado clínico real. Os autores descobriram que o aumento da ingestão de gordura insaturada (mono ou poli-insaturada) numa média de três meses melhorou os níveis de glicose encontrados no sangue de uma pessoa em 0,1%. Isso, foi anteriormente demonstrado indicando que uma melhora de 0,1% poderia reduzir a incidência de diabetes em 22%, o que os autores consideram “clinicamente significativo, especialmente dada a atual pandemia global de diabetes”.

Houve alguma limitação para o estudo?

Como todos os estudos, houve muitas limitações a serem observadas: houve um pequeno número de ensaios para alguns parâmetros avaliados. Além disso, os autores observam que pode haver alguns “problemas potenciais de enganos, conformidade, generalização, heterogeneidade devido a fatores não mensurados e viés de publicação”. Além disso, uma vez que a maioria dos ensaios incluídos na análise foram na América do Norte e na Europa, os resultados podem não ser aplicáveis ​​a outras populações e regiões.

Como os resultados se relacionam com o conjunto de evidências?

Esses achados estão amplamente alinhados com o conjunto de evidências que são uma extensão desses achados. A Nutrition Evidence Library (NEL) do USDA avalia, sintetiza e classifica estudos científicos sobre a metodologia e os critérios estabelecidos. O  Scientific Report of the 2010 Dietary Guidelines Advisory Committee dos EUA avaliou o “efeito da substituição de uma dieta rica em carboidratos por uma dieta rica em ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) em pessoas com diabetes tipo 2” e descobriu que existe evidência moderada para sustentar que o aumento da ingestão de gorduras monoinsaturadas, em vez do alto consumo de carboidratos, pode ser benéfico para pessoas com diabetes.

Qual é a mensagem final?

Como um todo, essas descobertas podem ajudar a informar os profissionais de saúde, os formuladores de políticas e o público em geral sobre as estratégias dietéticas para melhorar a saúde metabólica. Esta pesquisa destaca o enfoque nas gorduras insaturadas saudáveis ​​encontradas em óleos e cremes vegetais, nozes, peixes e vegetais ricos em gorduras insaturadas, como por exemplo o abacate. Além disso, os autores apontam que suas descobertas não devem ser extrapoladas aos carboidratos encontrados em “frutas, leguminosas ou grãos minimamente processados”. A troca de gorduras saturadas e/ou carboidratos por alimentos ricos em gordura insaturada, especialmente a gordura poli-insaturada pode ajudar a controlar os níveis de glicose no sangue, especialmente para aqueles que podem ser pre-diabéticos ou para aqueles que têm diabetes.