Fast Take: A Combinação de Sucralose e Carboidratos é Um Motivo de Preocupação?

Por Food Insight
PUBLICADO – 5 DE MARÇO DE 2020

Destaques

  • A sucralose é um adoçante não calórico.
  • A sucralose é o substituto do açúcar mais utilizado nos EUA, entretanto, a maioria dos refrigerantes dietéticos não é adoçada com sucralose.
  • Um novo estudo sugere que o consumo de sucralose produz disfunção metabólica quando consumida com carboidratos, e não produz essa disfunção quando consumida sem carboidratos.
  • Este estudo não foi concebido para avaliar o metabolismo da sucralose. Pesquisas em seres humanos que analisaram o metabolismo da sucralose não encontraram mecanismos plausíveis que sustentem os achados deste novo estudo.
  • Este único estudo não precisa mudar a sua abordagem pessoal para fazer escolhas saudáveis.

Os adoçantes de baixa e sem calorias (LCS), como a sucralose, são alguns dos compostos mais estudados em nossa cadeia de suprimentos de alimentos. Eles demonstraram ser seguros e são aprovados para uso em alimentos e bebidas pelas principais autoridades de saúde em todo o mundo. Entretanto, um novo estudo publicado no Cell Metabolism desafiou o consenso dos especialistas baseado em décadas de pesquisas sobre o metabolismo humano dos adoçantes de baixa e sem calorias. O estudo sugere que as bebidas adoçadas com sucralose podem interferir na forma como pessoas saudáveis digerem os carboidratos. O que este novo estudo nos diz que as pesquisas anteriores não o fazem? Devemos pensar de forma diferente sobre o que comemos enquanto tomamos uma bebida dietética? Eis aqui nossa opinião.

Como o estudo foi elaborado?

Este estudo teve como objetivo testar um conceito conhecido como a “hipótese da dissociação do doce”, que em termos simples afirma que, como os LCSs proporcionam um sabor doce sem calorias, o corpo mudaria suas formas normais de responder à doçura. Se a hipótese se revelasse verdadeira, os resultados indicariam que as pessoas que consomem LCSs sofreriam mudanças no metabolismo da glicose e teriam respostas cerebrais e sensoriais reduzidas ao sabor doce.

Participaram do estudo 39 adultos saudáveis (idades entre 20-45 anos) que não consumiam LCSs regularmente (para este estudo, isso significava que bebiam menos de três porções de 355 mL por mês). Inicialmente, os pesquisadores tinham planejado realizar um estudo semelhante com adolescentes entre 13 e 17 anos de idade. No entanto, esse estudo foi interrompido mais cedo devido ao aumento das concentrações de insulina plasmática em dois participantes do grupo da Combinação.

Os participantes foram submetidos a medidas no tempo zero do estudo que incluíram um teste de tolerância à glicose oral (OGTT) para verificar como o corpo quebrava a glicose e uma ressonância magnética funcional (fMRI) para medir a atividade cerebral. Em seguida, cada participante tomou sete porções de bebidas de 355mL durante duas semanas. O tipo de bebida que eles consumiram dependia do grupo em que foram aleatoriamente colocados: Açúcar (sacarose, comumente conhecido como açúcar de mesa), Sucralose, ou Combinação (sucralose mais maltodextrina, um tipo de açúcar que contém a mesma quantidade de calorias e é quebrado como açúcar de mesa, mas não tem sabor doce). Depois de encontrar diferenças nos resultados no grupo Combinação em comparação com os outros grupos, os pesquisadores incluíram em suas bases outro grupo que consumia bebidas apenas com maltodextrina. Cada vez que tomavam a bebida que lhes havia sido indicada, os participantes faziam medições sobre sua percepção e preferência gustativa. Após as duas semanas, os participantes fizeram outro OGTT e fMRI para ver como suas respostas haviam mudado em comparação com suas medidas no tempo zero do estudo. Os principais resultados de interesse foram tolerância à glicose, percepção gustativa e resposta cerebral aos sabores doce, azedo, salgado e picante.

Quais foram os resultados?

Os resultados do estudo pareceram algo inesperados para os pesquisadores. Não foram observadas diferenças importantes em nenhuma medida entre os grupos do Açúcar bem no da Sucralose. As surpresas vieram quando olhamos para o grupo da Combinação: Estes participantes apresentaram uma concentração mais elevada de insulina em sua corrente sanguínea no OGTT que foi realizado após terem consumido as sete porções de bebidas em comparação com a sua medição inicial; e combinado com a imagem do fMRI, foi encontrada uma relação entre as respostas do cérebro ao sabor doce e as concentrações de insulina. No entanto, a percepção e a preferência gustativa não mudaram em nenhum dos grupos. Juntos, esses resultados refutaram a hipótese de dissociação.

Em essência, os resultados do estudo mostraram que havia diferenças na resposta do corpo à glicose quando a sucralose era consumida com uma fonte de carboidratos quando comparada apenas com o açúcar ou com a sucralose. 

Pontos fortes e limitações do estudo

O desenho deste estudo era complexo. O objetivo foi abordar muitos aspectos dos alimentos e bebidas consumidos: como nosso cérebro reage, como nosso corpo é impactado e como nossas preferências pessoais pesam na fisiologia de tudo isso. E, apesar de ambicioso, é evidente que questões metodológicas prejudicaram o estudo e dificultaram a interpretação dos seus resultados. Aqui estão algumas limitações importantes:

  • Tamanho pequeno da amostra. Das 55 pessoas inicialmente recrutadas para os grupos Açúcar, Sucralose e Combinação, apenas 39 completaram o estudo. Quase um terço dos participantes não concluiu, com base tanto nas preferências pessoais, como em questões metodológicas que exigiram a sua remoção. Apenas 13 pessoas foram incluídas em cada um desses grupos, o que significa que a variabilidade nos desfechos foi maior do que se mais pessoas tivessem sido estudadas.
  • Duração do estudo. A intervenção deste estudo durou apenas duas semanas. Neste espaço de tempo, é difícil tirar conclusões robustas depois que as pessoas consomem sete porções de bebidas de 355 mL.
  • O histórico alimentar não foi avaliado, nem ao menos foi incluído. As informações sobre o uso dos LCSs foram registradas, entretanto, não houve menção à coleta de informações sobre outros alimentos e bebidas que os participantes consumiram durante o estudo. É difícil de avaliar o efeito de 2,5 L de uma bebida quando todo o restante dos alimentos e bebidas consumidos durante estas duas semanas não foi totalmente contabilizado. A dieta total é importante – é sempre um fator importante a ser considerado nos estudos de nutrição.
  • Muitos mecanismos foram discutidos, mas a maioria não foi realmente testada. Os autores do estudo escreveram um pouco sobre possíveis mecanismos que poderiam explicar os resultados encontrados. No entanto, o estudo não foi concebido para confirmar ou refutar nenhum deles. São necessárias muito mais pesquisas para poder traçar linhas claras entre os resultados ou para excluí-los.

Interpretação da mídia

Como é normalmente o caso, muitos meios de comunicação correram para divulgar um novo estudo sobre LCSs, e de maneira não precisa, nem verificada de fato. Manchetes como “Misturar refrigerantes dietéticos e batatas fritas tem um efeito perigoso no cérebro” e “Se você está comendo carboidratos, tome uma bebida gasosa regular em vez de uma versão dietética” imediatamente se materializaram, mostrando exemplos perfeitos de como os resultados das pesquisas podem ser mal interpretados. Quando se tem pouco cuidado em se ater à ciência, não é de admirar que os leitores fiquem confusos com o impacto dos LCSs na saúde e com a ciência da nutrição de modo geral.

Não somos estranhos à atenção dos meios de comunicação que se dedicam as pesquisas com LCSs – escrevemos vários Fast Takes semelhantes a este. Um elo comum entre eles é o fato de que muitas vezes, as manchetes não se alinham com a ciência. Fazer uma analogia entre uma situação em que a pessoa consome sucralose e maltodextrina para outra em que a pessoa bebe um refrigerante diet com batatas fritas é totalmente incorreto. A sucralose em si não é frequentemente utilizada na maioria dos refrigerantes dietéticos (na maioria dos casos, usa-se o acessulfame de potássio (ace-K) e o aspartame). E a maltodextrina não é, definitivamente, a mesma coisa que uma porção de batatas fritas. Embora não defendamos as batatas fritas como um alimento saudável de nenhuma forma, elas são feitas de uma grande quantidade de compostos alimentares, como carboidratos, gorduras, proteínas, vitaminas e minerais. A maltodextrina, por outro lado, é um carboidrato puro, uma fonte de açúcar de metabolização rápida. O impacto que um alimento inteiro terá no organismo é certamente diferente do impacto de um açúcar puro. Dizer que os resultados deste estudo nos levam diretamente à mensagem de “não beber refrigerantes dietéticos e comer batatas fritas ao mesmo tempo” é uma maneira irresponsável de interpretar a ciência.

Considerações finais

O impacto da sucralose na saúde tem sido amplamente estudado, com décadas de pesquisas mostrando que a sucralose é segura para consumo e não aumenta o açúcar no sangue nem afeta o controle da glicemia nos seres humanos. Apesar destas conclusões, alguns estudos frequentemente levantam questões sobre a sucralose prejudicar o controle normal da glicemia. Estudos de pesquisas mais robustos e bem desenhados não apoiam tais hipóteses.

O que a maioria das pessoas vai, provavelmente, querer como respostas é: “Devo mudar a forma como consumo alimentos e bebidas por causa deste último estudo?”. A resposta curta é não. Se você consome alimentos e bebidas com sucralose e/ou outros adoçantes de baixa caloria, você pode continuar fazendo isso com segurança. Se preferir não usar adoçantes de baixo teor calórico, tudo bem também. O que quer que o ajude a manter uma dieta e um estilo de vida saudáveis é a abordagem que você deve seguir.

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