Por Tamika Sims, PhD | 07 Mar 2017
Última atualização em 15 de junho de 2017
Desde o clima extraordinariamente quente, até o time de basquete Washington Wizards realmente ter uma chance no campeonato, e até aquele dólar que encontrei outro dia, março tem sido cheio de surpresas. Mas, surpresa mesmo é que o Environmental Working Group (EWG) lançou o “Dirty Dozen” (ou “Os dozes condenados”) no início deste ano. O Dirty Dozen lista 12 frutas e hortaliças que, de acordo com o EWG, têm as “cargas mais altas de pesticidas”, mas discutimos as questões em jogo no ano passado com A (Half) Dozen Reasons to Avoid the Dirty Dozen (Meia Dúzia de Razões Para Evitar Os Doze Condenados).
Este ano, as mesmas questões se aplicam. Mas queríamos aprofundar um pouco e descobrir as razões do relatório e seus efeitos sobre os consumidores.
Então, por que o Dirty Dozen continua sendo editado?
Ótima pergunta! Suponho que é porque o EWG acredita que a presença de pesticidas em frutas e hortaliças os tornem potencialmente tóxicos. Há um pouco de falha com esta lógica, e eu vou explicar. A presença de uma substância por si só não torna algo tóxico. Se esse fosse o caso, o multivitamínico que tomei esta manhã seria considerado perigoso por causa de seu ferro, e o suco verde que eu bebi seria uma sentença de morte devido ao seu ácido oxálico. Mas a razão para eu ainda estar viva e escrevendo este post é porque a dose faz o veneno.
Em doses extremamente altas, tanto o ferro como o ácido oxálico (um composto encontrado naturalmente em muitas hortaliças, como o espinafre, a azedinha e a couve de Bruxelas) podem causar a morte, mas para conseguir isso, você teria que consumir quantidades extremamente elevadas. Overdoses de ferro ocorrem depois de consumir 200 mg (a ingestão diária recomendada é de 11 a 45 mg, dependendo da idade e sexo), e você está olhando para cerca de 10 quilos de espinafre por dia para ver os efeitos negativos do ácido oxálico.
Aqui está o fato: A dose faz o veneno, não a mera presença dele. A realidade é que a quantidade de pesticidas nas frutas e hortaliças é tão pequena que precisa ser medida em partes por bilhão. Uma das menores unidades de medida, partes por bilhão – como o nome sugere – é uma parte por 1 bilhão de partes. Este é o equivalente a 1 gota (1 ml) de água em uma piscina de tamanho olímpico, ou um grão de açúcar misturado com um bilhão de grãos de sal, ou três segundos em um século! É por isso que uma criança teria que comer 1.508 morangos em um dia antes de haver qualquer impacto negativo de resíduos de pesticidas.
Dizemos isso várias vezes, mas os níveis de resíduos de pesticidas são rigorosamente regulamentados pela Environmental Protection Agency (EPA) dos Estados Unidos, pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos e pelo US Department of Agriculture (USDA), com o Serviço de Marketing Agrícola do USDA confirmando que os resíduos químicos de pesticidas encontrados em alimentos estão em níveis abaixo dos tolerados estabelecidos pela EPA e não representam uma preocupação de segurança.
Então, da próxima vez que você achar que a presença de algo torna isso tóxico, pergunte-se exatamente o quanto você teria que consumir disso para que você pudesse ver algum efeito negativo. Mesmo algo tão inócuo como a água ainda é tóxica se você consumir muito.
Como o Dirty Dozen do EWG afeta os consumidores?
Lembra do provérbio “an apple a day keeps the doctor away” (uma maçã ao dia mantém o médico longe)? Isso costumava significar que comer frutas e hortaliças era uma recomendação unânime para ajudar a manter a saúde e consumo diário de nutrição. Mas a mensagem do EWG está tornando-a muito mais complexa do que realmente deveria ser.
As pesquisas mostraram que as imprecisões dos relatórios sobre os resíduos de pesticidas em frutas e hortaliças (e a “superioridade” dos produtos orgânicos versus os cultivados convencionalmente) podem ter um impacto negativo sobre o consumo diário da quantidade recomendada de frutas e hortaliças das pessoas.
As pessoas que ouviram que o orgânico é mais saudável e melhor para elas podem não ter acesso ou dinheiro suficiente para comprar produtos orgânicos. De acordo com um estudo conduzido por pesquisadores no Johns Hopkins Center for a Livable Future (CLF) na Bloomberg School of Public Health, as mensagens nutricionais nas quais as pessoas são levadas a acreditar que as frutas e as hortaliças orgânicas são mais saudáveis podem conduzir às consequências insalubres.
O estudo constatou que muitas pessoas achavam que o orgânico era um importante fator para saber se um alimento específico era saudável e que as informações sobre alimentos orgânicos poderiam competir com outras mensagens saudáveis. Além disso, alguns participantes associaram resultados negativos à saúde com o consumo de alimentos não-orgânicos. “As concepções das pessoas sobre alimentação saudável são muito complexas, e este estudo mostra que os orgânicos podem desempenhar um papel importante, mesmo quando as pessoas não têm acesso ou os meios para comprar alimentos orgânicos”, diz Sarah Rodman, MPH, autora principal e um CLF-Lerner.
Juntando tudo
Veja, nós entendemos. É bastante difícil manter um estilo de vida saudável sem o acréscimo diário de relatórios imprecisos e não científicos sobre resíduos de pesticidas. Mas quando se trata de comer o suficiente de frutas e hortaliças, a coisa mais importante que você pode fazer é comer o suficiente (que são cerca de cinco porções) todos os dias, independentemente de serem orgânicos ou convencionalmente produzidos. Então, vá e aproveite seus morangos!
Este post para o blog inclui contribuições de Kamilah Guiden.