Série Alimentos e Inflamação: Os Laticínios São inflamatórios?

Por Allison Webster, PhD, RD
10 DE MARÇO DE 2022

Há muito tempo, sabemos que o que comemos afeta nossa saúde e, um vasto número de pesquisas sugere que nossos padrões alimentares afetam nosso risco para doenças crônicas relacionadas à dieta. Mais recentemente, a discussão sobre como algumas escolhas alimentares podem levar ao desenvolvimento de inflamação crônica no corpo tornou-se um tema importante na nutrição preventiva. Em nossa série Alimentos e Inflamação, examinamos mais de perto como os diferentes fatores alimentares estão relacionados à inflamação. Nossos dois primeiros artigos focaram no glúten e no açúcar. Neste artigo, vamos ver a conexão entre laticínios e inflamação.

O que é inflamação?

A inflamação é um processo natural no corpo que envolve a resposta do sistema imunológico a um fator irritante. É uma maneira de o corpo se proteger e se curar. Se você já teve um corte com uma folha de papel ou queimou a língua enquanto tomava uma xícara de café quente, o processo de cicatrização dessas feridas foi a resposta inflamatória do seu corpo em ação. Cortes e queimaduras são exemplos de inflamação aguda, que é uma resposta relativamente curta a lesão, irritação e/ou infecção. A inflamação aguda pode ser causada por fatores infecciosos, como bactérias ou vírus; fatores não infecciosos, como lesões e produtos químicos; ou fatores psicológicos, como estresse ou excitação.

Em contraste, a inflamação crônica é uma resposta fisiológica de longo prazo que pode durar de algumas semanas a muitos anos. Ao contrário da inflamação aguda, a inflamação crônica nem sempre é visível a olho nu. Pode ser causada por vários fatores, incluindo condições autoimunes, estresse crônico, exposição prolongada a poluentes, inatividade física e certas exposições alimentares. Quando o corpo humano experimenta uma resposta inflamatória constantemente ativada, ele pode abrigar reações destrutivas que danificam as células e que estão ligadas ao aumento do risco de doenças como diabetes, doenças cardiovasculares, demência, depressão e certos tipos de câncer.

A Conexão Entre Alimentos e Inflamação

A inflamação é um processo complicado, e a conexão entre alimentos e inflamação ainda está sendo estudada. Algumas pesquisas mostram que certos nutrientes, como vitamina E, magnésio e fibras, bem como, antioxidantes como polifenois, podem reduzir a inflamação. Dietas ricas em amidos refinados, açúcar, gorduras trans saturadas e artificiais; e que são pobres em frutas, hortaliças, grãos integrais e ácidos graxos ômega-3,  têm sido associadas ao aumento da inflamação no corpo. No entanto, pesquisas sugerem que é improvável que as mudanças nas escolhas alimentares resolvam completamente a inflamação crônica.

Os laticínios são um grupo de alimentos acusados de aumentar a inflamação em nosso corpo. Vamos examinar a validade dessa afirmação.

Fontes de Laticínios

A palavra laticínios refere-se a alimentos elaborados com leite animal. Nos Estados Unidos, muitas vezes vemos produtos lácteos elaborados com leite de vaca, mas também há opções produzidos com leite de cabra, ovelha, búfala, camelo, entre outros.

Fontes comuns de laticínios incluem leite, iogurte, queijo, manteiga, kefir, creme e sorvete, e proteínas do leite, como soro do leite e caseína. Esses alimentos contêm nutrientes importantes como proteínascálcio, riboflavina, magnésio, vitamina A, vitamina D, vitamina B12 e ácido linoleico conjugado. Produtos lácteos fermentados, como iogurte e kefir, podem conter probióticos, que são bactérias benéficas que ajudam a contribuir para uma microbiota intestinal saudável.

O Leite é Inflamatório?

Por que será que existe toda essa conversa sobre se os laticínios são inflamatórios? Pode ser devido ao fato de que a principal gordura encontrada no leite é a gordura saturada, e dietas ricas em gordura saturada podem aumentar a inflamação. As Diretrizes Dietéticas 2020–2025 para Americanos recomendam limitar a ingestão de gordura saturada para menos de 10% do total de calorias consumidas diariamente. Ao mesmo tempo, outros ácidos graxos nos laticínios, como os ácidos graxos de cadeia curta, têm sido associados a benefícios à saúde, e algumas pesquisas questionaram se todas as gorduras saturadas podem ter efeitos negativos à saúde. Pesquisas adicionais são necessárias para entender melhor o papel do perfil geral dos ácidos graxos dos laticínios na saúde humana.

Para a maioria das pessoas, as pesquisas não apoiam uma ligação consistente entre laticínios e inflamação. No entanto, existem exceções, como pessoas com alergia ao leite ou intolerância à lactose, que estão brevemente revisadas abaixo. Um dos desafios nessa área de pesquisa é que, muitas vezes, o desenho dos estudos, os métodos, os participantes das pesquisas e suas dietas variam muito, dificultando a comparação dos resultados entre os estudos. Algumas pesquisas constataram que os laticínios, particularmente nas formas de variedades de gordura integral e produtos não fermentados, podem estar associados ao aumento no risco de pre-diabetes e diabetes tipo 2. No entanto, outros estudos não encontraram tal relação, e algumas pesquisas até sugerem que os laticínios, especialmente produtos lácteos fermentados, podem estar ligados à redução do risco de diabetes tipo 2 e doença cardiovascular. Uma revisão sistemática publicada em 2019 mostrou que os laticínios não tiveram um efeito pró-inflamatório em adultos saudáveis ​​ou em adultos com síndrome metabólica, obesidade e/ou diabetes tipo 2. Curiosamente, houve um efeito anti-inflamatório fraco observado com certos produtos lácteos fermentados, como o kefir. Porém, esse efeito foi observado apenas em alguns estudos. Mais ensaios de pesquisas de alta qualidade são necessários para investigar e confirmar essa relação potencial.

Algumas pessoas experimentam efeitos adversos depois de consumir laticínios devido a certas condições de saúde, e é aí que a inflamação entra em ação. Essas condições de saúde são descritas abaixo.

Intolerância a lactose

A intolerância à lactose é uma condição comum que se refere à incapacidade do corpo de digerir a lactose, o açúcar encontrado naturalmente no leite. Pessoas com intolerância à lactose são incapazes de produzir o suficiente da enzima lactase que digere a lactose, e essa condição leva a desconforto físico, inchaço e/ou desconforto gastrointestinal após o consumo de laticínios. O tratamento para a intolerância à lactose é evitar os laticínios, usar alternativas aos laticínios à base de plantas ou laticínios com lactase já adicionada ao produto, e/ou tomar um suplemento de lactase ao consumir laticínios. A intolerância à lactose não é causada diretamente por uma resposta inflamatória, mas a inflamação pode ocorrer quando os sintomas estão presentes.

Alergia ao Leite

A alergia ao leite ocorre quando o sistema imunológico do corpo reage adversamente às proteínas do leite e dos produtos lácteos e ativa uma resposta inflamatória, que pode variar em gravidade indo de erupções cutâneas a problemas gastrointestinais e anafilaxia. O tratamento requer evitar todos os produtos lácteos e alimentos e bebidas que contenham ingredientes derivados do leite. A lei dos EUA exige que os rótulos dos alimentos identifiquem a fonte alimentar de todos os principais alérgenos alimentares, incluindo o leite, usados ​​na produção alimentos.

Devo Evitar os Laticínios?

Se você sentir um desconforto perceptível após consumir produtos lácteos, consulte seu médico para tentar descobrir a causa de seus sintomas. Se você for diagnosticado com intolerância à lactose ou alergia ao leite, precisará prestar mais atenção às listas de ingredientes e procurar rótulos “sem laticínios” em seus alimentos e bebidas industrializados. Aprender mais sobre as fontes de laticínios em sua dieta poderá ajudá-lo a gerenciar seus sintomas.

Para a maioria das pessoas, os laticínios não causam inflamação e não há necessidade de evitá-los. Muitos alimentos que contêm derivados do leite podem ser consumidos como parte de uma dieta saudável. Além disso, existem muitas alternativas ao leite não lácteas, e à base de plantas no mercado para quem procura outras opções. No entanto, esses produtos alternativos podem não conter as mesmas quantidades de proteína, cálcio ou outros nutrientes encontrados no leite animal. Ao comprar alternativas aos lácteos à base de plantas, procure variedades que foram fortificadas com cálcio, vitamina B12, vitamina A e vitamina D.

Este artigo inclui contribuições de Debbie Fetter, PhD.